Ao assumir a gerência de segurança corporativa da segunda maior rede de restaurantes de comida rápida do país – para mim um desafio completamente novo – causou-me muita surpresa encontrar pouquíssima literatura técnica específica sobre o assunto em nosso idioma. Sendo um entusiasta dos assuntos pertinentes à segurança pessoal de executivos e autoridades, armamentos, inteligência e contra-terrorismo, já detinha alguma experiência em segurança patrimonial, embora mais estritamente voltada ao ramo bancário. Uma vez que em segurança inexistem as famosas “receitas de bolo”, torna-se claro que para proteger as lojas, suas operações, os clientes e os funcionários numa conjuntura cada vez mais violenta e adversa necessitamos estudar as peculiaridades deste ramo específico de comércio e adequar acepções, quase sempre novas e dinâmicas, aos nossos velhos conhecidos princípios da segurança.
AS CARACTERÍSTICAS DO COMÉRCIO
Um restaurante fast-food possui características bastante peculiares. Trata-se de um comércio dinâmico por excelência, fortemente centrado em marcas, que apresenta uma grande circulação de clientes mas que, ao contrário dos bancos por exemplo, movimenta em suas lojas quantias de dinheiro muito menos significativas. O patrimônio físico (em termos de máquinas, produtos e equipamentos) bem como o dinheiro em caixa, não fazem dessa categoria de restaurantes um alvo atrativo para as grandes quadrilhas e não consegui colher exemplo de fast-food assaltado durante o expediente por um numeroso grupo armado de fuzís ou metralhadoras. Por outro lado, pela liberdade de acesso, pela ignorância de gerentes e funcionários quanto a aspectos técnicos da segurança de seu ambiente, bem como pela própria fragilidade da segurança física dessas instalações, os fast-foods são avo fácil de “arrastões” e de pequenos assaltos, praticados por pivetes, ladrões principiantes, viciados em busca de dinheiro para drogas ou mesmo por ex-funcionários, os quais sempre dispõe de informações privilegiadas.
Um enorme complicador para a segurança desses estabelecimentos é que a necessidade de criar uma atmosfera agradável e atrativa para o cliente não permite opor obstáculos entre ele (o cliente) e os funcionários que o atendem. Num fast-food não há como se estabelecer rígidos controles de acesso, instalar portais de detecção de metais, etiquetas anti-furto etc. A venda deve ser praticada num clima agradável, de extrema empatia. Normalmente não existem vidros ou anteparos, os balcões são baixos (e consequentemente, facilmente transponíveis), os caixas (e suas gavetas), na maioria das vezes, podem ser alcançados com um simples esticar de braço, não existem obstáculos físicos à passagem para as áreas restritas, a visão do que se passa no interior através das janelas da loja quase sempre se encontra prejudicada pela afixação de cartazes e galhardetes etc.
A prioridade consiste em atrair o cliente, fazer com que ele goste de tudo – da comida ao atendimento, do design do ambiente à segurança que ele oferece – e mantê-lo fiel. Aliás, modernamente, o que se pretende é que o cliente se torne um entusiasta da loja, verdadeiro fã da marca, de seus produtos, amigo daqueles que o atendem no dia à dia… Nesse contexto, os critérios preponderantes de harmonização arquitetônica, paisagística e de marketing obrigatoriamente se sobrepõe aos pressupostos tradicionais da segurança. Tal fato se explica unicamente por uma exigência de mercado; e uma vez que nenhum de nós se sentiria à vontade dirigindo-se a um “bunker” para pedir um hambúrguer ou cachorro-quente (o qual seria entregue através de uma “janelinha” ou eclusa de aço blindada) resta aos profissionais encarregados de planejar a segurança dessa modalidade de comércio tentar conciliar as medidas preventivas e dissuasórias de segurança nas instalações que, via de regra, foram projetadas sem levar em conta os históricos da criminalidade naquela área, o modus-operandi das ações delituosas típicas etc. Vale lembrar também que, na eterna luta de encarregados e planejadores de segurança “versus” criminosos, as restrições de caráter orçamentário, a necessidade de economizar, a dificuldade de conscientizar, as dificuldades de adqüirir este ou aquele equipamento, preocupam e atingem sempre aos “mocinhos” e quase nunca aos fora-da-lei.
Sabemos que – do ponto de vista do cliente de um estabelecimento – é muito importante usufruir da sensação de segurança… talvez mais até do que – sob o ponto de vista estritamente técnico – estar realmente seguro. Se o cliente (o qual normalmente já se afiniza com os produtos da linha comercializada) se sente bem e seguro numa determinada loja, é provável que venha visitá-la com maior assiduidade, concorrendo significativamente para uma melhoria no faturamento daquela dependência. O cliente seguro faz a melhor propaganda, garantindo com o seu testemunho pessoal que o local pode (e até deva) ser freqüentado sem receio. Proporcionar a indispensável sensação de segurança aos clientes é um dos principais objetivos da segurança numa rede de fast-food. Nas lojas situadas em shopping-centers o assédio de pivetes e mendigos normalmente não existe, mas nas lojas situadas abertamente ao nível da rua, além de zelar para que os clientes não sofram roubo ou furto no interior da dependência, se deve garantir que os mesmos possam desfrutar de seus lanches de forma tranqüila, sem serem importunados.
Uma prévia consulta a um profissional de segurança qualificado sempre pode poupar dinheiro e problemas às empresas quando do projeto de uma loja. Embora no Brasil ainda não haja grande tradição em proceder dessa forma, é na fase de projeto de uma loja que se deveria contemplar a necessidade de instalação de equipamentos como sensores de detecção de intrusão (por infra-vermelho passivo, sensores magnéticos de abertura de portas e sensores de quebra de vidros), sensores de incêndio, câmeras de circuito fechado de televisão e os respectivos equipamentos de gravação ou transmissão de imagens, sistemas de “no-break”, iluminação preventiva, cofres, portas e fechaduras resistentes para a área de gerência, gradeamentos etc. Conduítes deveriam ser previstos na fase de projeto, a fim de eliminar o inconveniente – estético e técnico – das fiações e cabeamentos expostos correndo pelos cantos e paredes. À luz das modernas experiências com assaltos, a posição do caixa numa loja do tipo “drive-thru” deve contar com janelas de policarbonato (à prova de balas) e dotada de botão de alarme discretamente posicionado (do tipo “money-clip” no interior da gaveta de dinheiro, ou botoeira que possa ser acionada com os pés). Ainda na fase de projeto, também se pode estabelecer um local seguro para contagem de dinheiro recolhido dos caixas, de preferência numa posição de onde se possa visualizar o que acontece no balcão e no salão da loja.
PREVININDO OS ASSALTOS
Um assalto em um restaurante fast-food pode acontecer praticamente a qualquer momento. Um histórico de ocorrências analisado demonstrou que são particularmente perigosos os momentos iniciais da manhã (quando da abertura das lojas ao público) e na hora que antecede o fechamento. Quando da chegada dos malotes de dinheiro pela manhã e depois do abastecimento dos caixas da loja, a atenção deve ser redobrada. Nos dias de pagamento de funcionários, principalmente em lojas onde o pagamento seja feito no local e em espécie, a situação vai requerer cuidados bastante especiais.
Nos roubos à restaurantes fast-food, normalmente os criminosos avaliam a perspectiva do risco da ação e a recompensa que pode ser obtida, considerando a quantidade de dinheiro vivo disponível, a possibilidade de reação da segurança local (ou da chegada rápida dos efetivos policiais em socorro), a existência de circuito fechado de televisão, a existência de acionadores de pânico silenciosos etc. Outros fatores que podem condicionar a escolha dos alvos nas ações de roubo são a própria localização da loja (favorecendo o acesso sem despertar suspeitas e fuga rápida), a quantidade de funcionários trabalhando, sua faixa etária e compleição física etc…
O emprego de vigilância ostensiva armada no interior das lojas é algo que deve ser considerado com bastante cuidado. Embora saibamos que a presença de guardas armados possam dissuadir bandidos como os que costumam assaltar tais lojas, há de se considerar particularmente a qualificação, o treinamento e o temperamento daquele elemento que se pretenda empregar como “guarda” na loja. Um criminoso baleado numa loja e um assalto frustrado pode fazer com que as lojas de uma rede passem um bom tempo sem sofrer com essas visitas indesejáveis, porém isso não é algo que se possa afiançar com 100% de certeza. Obrigatoriamente há de se analisar o histórico de ocorrências delituosas na região ou cidade. Com a criminalidade em cidades como o Rio de Janeiro atingindo patamares de impensável ousadia, sempre podem ocorrer represálias… Não podemos deixar de levar em consideração também que – devido à normal “contenção de custos” que atinge indistintamente as empresas – nem sempre se poderá implantar um quantitativo de homens armados compatível com as dimensões da loja, com sua localização, com o público que ela recebe e seu faturamento etc. O quantitativo de seguranças deve ser dimensionado de acordo com as necessidades observadas em cada loja e sou de opinião que se não pudermos provir um efetivo minimamente capaz de realmente dissuadir ações adversas numa loja especificamente, é melhor que não optemos pelos vigilantes ou agentes de segurança armados. A simples “padronização” de um vigilante armado para cada loja, pode – mais do que uma medida de segurança – constituir-se num problema; o revólver é um instrumento de cobiça para os bandidos e não se pode descartar a possibilidade de que dois ou mais deles, mesmo desarmados, criando uma situação de distração, possam tentar imobilizar um guarda sozinho e tomar-lhe a arma. Por outro lado, um disparo de arma de fogo efetuado de forma imprecisa, pode acarretar vítimas inocentes no interior da dependência e causar irremediáveis danos à imagem da empresa, prejudicando-lhe as vendas, não só daquela única loja, mas de toda a rede. No caso de um cliente ser atingido por um disparo acidental, o valor pago numa ação indenizatória pode exceder em muito o faturamento mensal de uma loja.
Preventivamente a solução contra assaltos mais eficaz encontrada por planejadores de segurança foi a de limitar a quantidade de dinheiro a que criminosos podem acessar rapidamente num roubo. A solução de adotar cofres com fechadura de retardo – a exemplo do que ocorreu nos bancos – pode ser dispendiosa e por isso menos vantajosa do que o usual emprego do cofre do tipo “boca-de-lobo” de duplo trancamento. Neste caso, uma das chaves simplesmente não se encontra em poder da gerência. É trazida pela guarnição de vigilantes do transporte blindado de valores que vai periodicamente à Loja para fazer o recolhimento do dinheiro. Os valores arrecadados pelos caixas com as vendas são constantemente recolhidos durante o expediente e depositados no referido cofre através do compartimento basculante blindado. Se os criminosos chegam e pedem dinheiro, apenas poderão dispor daquele que estiver nos caixas naquele momento ou de uma pequena quantidade mantida para troco (notadamente em moedas) no outro cofre de serviço na gerência. Não há como “pescar” o dinheiro no cofre e o seu arrombamento demandaria um tempo ou até uma especialização que esse tipo de bandidos simplesmente não tem.
A divulgação dos tais procedimentos de segurança quanto à cautela de numerário no seio dos funcionários da loja ajuda a reforçar essa idéia para o público interno, uma vez que podem ocorrer “vazamentos” de informações para beneficiar criminosos. A observância desses procedimentos deve ser fiscalizada pelos gerentes das lojas e pelos responsáveis pela segurança. O processo seletivo dos novos funcionários que vão trabalhar nas lojas deve, sempre que possível, compreender uma checagem de antecedentes profissionais e criminais. As referências devem checadas, quer pela segurança corporativa da rede ou por empresa especializada contratada pelo setor de recursos humanos com esta finalidade. Embora a grande maioria dos funcionários subalternos nas lojas seja constituída de pessoas trabalhadoras, de origem humilde e honesta, há casos de roubos perpetrados com informações das rotinas da loja fornecidas por maus funcionários, assim como há históricos até da participação em assaltos de funcionários que foram despedidos por desvios de conduta
O limitado o montante de dinheiro disponível, aliado aos demais recursos de segurança como circuito fechado de TV e os alarmes, concorre para transformar as lojas fast-food em alvos pouco atrativos. A existência de câmeras de TV ostensivas, juntamente com cartazes que alertam para a existência delas e para o sistema de gravação segura das imagens, traz para o criminoso mais uma incerteza. Por mais que o seu roubo possa ter êxito, um sistema que armazene ou transmita sua imagens – e que seja mantido em condições tais que o criminoso não possa a ele acessar – permite que se apure os delitos, identificando positivamente seus autores, “modus operandi” de suas ações etc. Ações um pouco menos violentas como o vandalismo dos grupos de jovens arruaceiros ou ainda algumas das fraudes praticadas por funcionários podem ser desencorajadas por uma sistema de câmeras (verdadeiras e falsas) bem distribuídas numa loja, uma vez que permite o registro em vídeo de tudo que se passa nos setores e pontos monitorados. Nas lojas, os principais pontos de acesso como as portas (se possível também as de serviço), o salão e o balcão de atendimento com os caixas deverão contar com monitoramento de CFTV, assim como também o estacionamento, área exterior circunvizinha etc. A tecnologia hoje disponível nos provê uma ampla gama de opções de equipamentos. Câmeras de variados modelos, verdadeiras e falsas (quase indistingüíveis das autênticas), coloridas e P&B, com capacidade de operar mesmo sob condições de luminosidade excessiva ou deficiente, câmeras fixas e móveis, câmeras interligadas com os sensores de infra-vermelho passivo e botões de pânico (de forma a fixar a atuação de uma câmera no instante em que houvesse um evento de sensoreamento na área coberta), sistemas de gravação local por videocassete, sistemas de gravação digital por computador, transmissão de imagens digitais por linha telefônica…permitem ao planejador de segurança escolher o equipamento que melhor se enquadra às premissas de risco/custo/benefício da sua rede de lojas.
Um bom entrosamento com os organismos de segurança pública também concorre para a melhoria das condições de segurança nas lojas. Se durante a seleção de seus alvos, os criminosos se acostumarem a ver na loja os policiais que rondam nas redondezas, é bem provável que abandonem a idéia de agir contra a referida dependência. A boa relação entre a gerência da loja, seus funcionários e o policial que está de serviço, um lanche que ajude ao agente de autoridade a poupar seu vencimento e a alimentar-se melhor no dia de plantão, pode representar um maior empenho no atendimento a uma ocorrência emergencial na loja. Não se trata de institucionalizar na rede uma postura lesiva ao lucro das lojas, do tipo “polícia não paga”, mas de cativar os agentes que prestam serviço nas cercanias, os quais sempre responderão melhor ao chamado da dependência em questão. Tal procedimento que, no Brasil já é adotado há tempos pelo comércio de refeições, vem sendo também aplicado em outras partes do mundo. Em sua edição de 18 de Setembro de 2002, o jornal britânico “The Daily Telegraph” noticiava que a Inglaterra – cujas soluções no campo da segurança, própria ou inadequadamente, sempre são indicadas como modelo para o Brasil – já incentiva que policiais, auferindo pequenos descontos, façam suas refeições no comércio nas áreas por eles patrulhadas, de forma a reduzir o tempo gasto no deslocamento para almoço ou jantar, aumentando a presença ostensiva nas ruas. Quando do fechamento das lojas, horário em que é estatisticamente grande a incidência de assaltos, contar com a dissuasão da presença policial se constitui numa grande vantagem.
De uma maneira geral, os incidentes, discussões, brigas, enfim todos os problemas que acontecem na loja devem – prioritária e predominantemente – ser resolvidos com uma boa conversa de parte do gerente ou do fiscal de salão. Assim sendo, aqueles a quem couber zelar pela segurança das lojas devem, antes de mais nada, ter condição de dialogar com clientes, tratá-los com cortesia e tentar apaziguar…tudo “no papo”! O emprego de força física, armas ou mesmo o concurso da polícia, são recursos dos quais só se deve lançar mão quando o emprego da diplomacia não for mais possível. Uma vez que em boa parte das lojas os incidentes de má conduta, arruaça ou vandalismo perpetrados por jovens costumam ser mais freqüentes que os assaltos, uma opcão acertada é a de instruir o profissional que se emprega como “Fiscal de Salão” em técnicas defensivas de combate desarmado como a brasileira Kombato (www.kombato.com) e o Aikidô, originária do Japão. Embora armas de choque elétrico (não-letais, de alta voltagem, com amperagem baixa) estejam liberadas para uso civil no Brasil, não creio que seu uso disseminado para os seguranças de lojas se constitua numa boa solução, mormente pelo fato de que a nossa mídia sensacionalista pode transformar um lícito recurso de defesa em instrumento de tortura ou agressão, comprometendo a imagem da instituição. Em casos de lojas com “problemas crônicos” de brigas e arruaças uma solução eficaz pode ser copiada das boates e clubes noturnos, contratando fiscais que sejam verdadeiras montanhas de músculos ou que sejam reconhecidamente experts em artes marciais, os quais tendem a desencorajar os brigões pela própria presença ostensiva no salão.
CONSCIENTIZANDO EM PROL DA SEGURANÇA
No mercado de trabalho é extremamente comum encontrarmos pessoas que encarem a segurança como tarefa unicamente de policiais, bombeiros, militares e profissionais de vigilância privada. Nada mais errado, sabemos que atuar na segurança é função prioritária dos grupos anteriormente mencionados, porém eles não podem prescindir da colaboração e do empenho de todas as outras pessoas, grupos e categorias profissionais. Para que se possa desfrutar de condições satisfatórias de segurança, deveremos – todos – estarmos comprometidos com essa finalidade.
Um desafio quando se trata de garantir a segurança em qualquer modalidade de negócio é tornar claro e aceito que, para desfrutar de segurança, toda pessoa que dele participa – do funcionário mais humilde ao Presidente da empresa – deve assumir que precisa mudar detalhes da sua maneira de agir e de viver, modificar seus hábitos, se conscientizando de que, em função de todos os perigos, ela obrigatoriamente deverá precaver-se. Num restaurante fast-food todos estão prioritariamente voltados para a produção e cabe ao gerente de segurança a tarefa de inculcar segurança na mente das pessoas; algo como “você funcionário é o principal interessado em que nada de mal aconteça consigo e por isso deve pensar e agir levando sempre a segurança em consideração”.
Os gerentes e funcionários devem trabalhar permanentemente alertas pois qualquer pessoa mal intencionada (seja um assaltante ou mesmo um funcionário disposto a fraudar) estará sempre observando a maneira de funcionamento da loja e anotando as falhas que permitirão atacar com sucesso. Membros de gerência, monitores, fiscais e atendentes não deverão descuidar-se. O principal e mais prejudicial dos preconceitos em segurança, consiste em achar que algo de ruim jamais irá acontecer conosco ou que, por qualquer motivo, estaríamos à salvo de uma ação criminosa. Por mais que isso possa tardar, tal preconceito costuma custar muito caro!
As empresas, se possível com a ajuda de um profissional experiente, devem pensar e antecipar tudo o que pode vir a acontecer na loja em termos de ações criminosas como roubo, furto, depredações, sabotagens e fraudes. Em se tratando de segurança não se pode contar apenas com a boa sorte; há de se pensar antes, até pelo fato de que só se consegue atuar corretamente em face de uma ocorrência que se imaginou que pudesse realmente acontecer.
Tudo que puder ser identificado como uma óbice ao bom andamento do serviço ou ameaça à segurança das lojas, de seus funcionários e clientes deve suscitar medidas preventivas dos planejadores de segurança. Como poderíamos evitar tais ocorrências de roubo, furto, constrangimentos, abuso sexual em banheiros, estelionatos, depredações e atos de vandalismo? Quais medidas devemos tomar? Tudo deve preferencialmente ser previsto, levando em consideração as características da edificação e do ambiente onde está situada, o público freqüentador, o histórico de ações pregressas, a legislação vigente e todas as informações que os profissionais, atuando com inteligência, possam coletar. Lamentavelmente para nós, segurança não se trata de uma “ciência exata”. Não existe fórmula 100% garantida para se evitar uma fraude, um furto ou um roubo, principalmente quando consideramos que a segurança é uma atividade-meio, voltada para garantir a operação dos restaurantes com o mínimo de percalços e não para inviabilizá-la. Sempre existirá a possibilidade de ocorrências adversas e sem poder garantir que as mesmas não ocorrerão, prioritariamente nos caberá pensar sempre no pior e previnir tais situações lançando mão de avisos, normativas, comunicados e todos os demais recursos e equipamentos disponíveis. Em segurança, ao contrário das ciências naturais ou estatísticas, o fato de uma modalidade de evento (no caso, de delito) não ter se processado até a presente data não assegura a impossibilidade de sua ocorrência, apenas indicando que a mesma, por fatores às vezes imponderáveis, ainda não foi tentada.
Num meio onde os criminosos dispõe de fuzís, metralhadoras, granadas e até foguetes, não esperamos que os funcionários tentem reagir à força dos bandidos. A idéia – seja na via pública, seja em nossos lares, seja nas lojas – é estar suficientemente atento para identificar o perigo antes dele se materializar e aí tomar todas as providências ao alcance, a fim de prevenir a ação. Num banco, o guarda da tem por obrigação trabalhar de forma a impedir que os criminosos possam ter acesso armado ao interior dos postos e desencadear um ataque. A criminalidade precisa ser mantida do lado de fora e para isso, além de um bom trabalho de abordagem na porta giratória. Um guarda deve observar a movimentação no exterior do Banco e visualizar a movimentação de elementos suspeitos antes mesmo deles chegarem à porta. Se o vigilante olhar por através do vidro e perceber a movimentação suspeita de elementos portando fuzis AR-15, não se imagina que ele vá esperar que os elementos cheguem até a porta para constatar que está diante de um assalto e que o alarme deverá ser acionado. Assim como o guarda está atento à movimentação de quem possa pretender atacar um banco, os funcionários devem estar permanentemente “ligados” nas pessoas que circulam pela loja e chegam ao balcão.
Os responsáveis pela segurança de uma rede de fast-food devem buscar desenvolver nos funcionários a capacidade de perceber o perigo antes dele acontecer, principalmente demonstrando a vantagem de tornar tal procedimento um hábito comum nas vidas de todos. Este hábito é saudável e os preservará de muitos contratempos. Em suas ações, os criminosos necessitam daquilo que chamamos de “elemento surpresa”, ou seja, precisam permanecer sem serem identificados (ou detectados) até o momento de anunciarem a sua ação. Não faltam exemplos de assaltantes bem vestidas, com ternos caros, carros importados, roupas brancas (como médicos), fardados como militares, com coletes de policiais… mas em todas as situações sempre deixam transparecer olhares nervosos, sinalizações por meio de gestos ou alguma coisa que indique sua real intenção. Vale se perguntar sempre o porquê daquele cliente olhar tanto ao seu redor e se demorar tanto ao saborear um simples sorvete? Qual o motivo que leva aqueles dois clientes a permanecerem no salão depois do fechamento das portas? Como eles estão vestidos? Parecem estar armados? Aquele cliente aparenta um mal disfarçado volume sob a camisa? Estaria ele armado? O que há naquela bolsa que o cliente deixou debaixo da mesa? Apenas pessoas atentas podem perceber os detalhes que acabarão por revelar uma ação criminosa prestes a acontecer. No que tange às fraudes, mesmo diante da máxima que diz que “quem vê cara não vê coração”, é fato que uma quantidade realmente grande de golpistas deixa transparecer características como demonstrar irritação pela demora no atendimento, olhar repetidamente para todos os lados, tentar esconder o rosto da câmera de CFTV, agir de forma apressada ou agitada, não fazer questão de nota ou comprovante de pagamento, dá gorjetas altas…e tudo isso tem de provocar a desconfiança de um funcionário atento
Nos dias de hoje, com todos os exemplos de crimes que acontecem à nossa volta, as gerências de segurança nas redes de fast-food devem manter os funcionários nas lojas o mais atualizados possível com as técnicas que a criminalidade vem adotando em suas investidas. A expedição de comunicados circulares e realização de palestras pelos encarregados de segurança são ferramentas importantíssimas na prevenção de delitos. Uma metodologia interessante consiste em demonstrar a relevância de saber como os ladrões ou fraudadores agiram para que se possa impedí-los de repetir aquela ação contra as próprias pessoas ou contra as lojas onde elas trabalham. Os responsáveis pela segurança numa rede de restaurantes devem procurar manter arquivos atualizados com narrativas de ocorrências delituosas, fotos, retratos-falados de criminosos. Informações sobre todas essas ações que se consiga coletar devem ser levadas ao conhecimento dos funcionários pois, do contrário, ele acabarão sendo vítima dos mesmos elementos e/ou da mesma tática que já foi utilizada com sucesso anteriormente contra uma outra loja, seja ela da mesma rede ou não.
Certa vez, em uma de suas famosas cartas, o Duque de Wellington pedia desculpas a seu interlocutor por não conseguir se expressar de forma mais resumida…. Com a idéia de poder transmitir algo da minha própria experiência prática no gerenciamento da segurança uma rede de fast-food – sobretudo numa época em que a segurança se faz tão necessária – me vi confrontado com a mesma situação. Este artigo e conjunto de “dicas” que ele encerra de forma alguma pretendem esgotar o universo de conhecimentos desejáveis, a fim de se garantir o funcionamento seguro de um restaurantes de comida rápida na perigosa selva em que vem se transformando as nossas grandes cidades. Não abordei o problema do terrorismo e sei que aspectos essenciais da segurança em face das fraudes praticadas por funcionários (matéria que por si só acarretaria um outro artigo de tamanho idêntico) certamente deixaram de ser abordados; mas caso haja conseguido auxiliar outros profissionais de segurança ou mesmo funcionários do ramo do fast-food (os quais, normalmente, pouco compreendem ou conseguem enxergar sobre a atividade de segurança) acredito que terei alcançado o meu objetivo.