Seguridad de autoridades (en portugués)





A segurança de autoridades


Desde os primórdios, atentados são ocorrências indesejáveis que caminham lado à lado com o exercício do Poder. Uma autoridade, qualquer que seja ela, exerce uma função de mando que normalmente angaria para si uma razoável dose de antagonismo. O exercício das funções da autoridade sempre desagradará aos interesses de pessoas, grupos e até mesmo de governos estrangeiros, os quais podem tramar e executar as ações adversas, contra as quais a segurança de tais dignitários deverá estar capacitada a se opor.

O cidadão comum que vez por outra toma conhecimento pela mídia de problemas envolvendo a segurança desta ou daquela autoridade sempre vai questionar a competência dos profissionais envolvidos, se dispondo, ele próprio a exemplificar, em seguida, uma grande quantidade de fracassos das equipes encarregadas da segurança de personalidades. É fato que todo mundo se crê um pouco "técnico na atividade de segurança" e nessas horas é comum pensar que de nada serve a segurança ou que, ao exemplo de outras ridicularizadas instituições da América Latina, a nossa segurança também se destaque pelo primarismo ou pela incompetência. No julgamento que se faz da "performance" dos elementos da segurança, quase nunca se avalia que, em se tratando da proteção de autoridades, a segurança – à contra-gosto – quase sempre acaba fazendo aquilo que o dignitário deseja que seja feito. Embora contrariando a boa técnica, em boa parte das vezes é a vontade do protegido que prepondera, e os seguranças acabam se vendo às voltas com situações que bem se parecem com a materialização de seus piores pesadelos. Para que se faça uma boa segurança, é necessário dispor de dados relativos às características pessoais, personalidade e hábitos da autoridade a ser protegida; mas sua vontade pessoal não deveria ser levada em consideração, sempre que o seu atendimento implicasse em risco para o esquema de segurança e consequentemente para a sua própria proteção como dignitário. Só para que se tenha uma idéia da extensão dos problemas com os quais a segurança se defronta, em Outubro de 1999, um engarrafamento em Londres fez com que o Primeiro-Ministro britânico, Tony Blair, saisse de seu veículo blindado e tomasse o metrô, numa decisão que surpreendeu tanto aos passageiros do trem quanto aos seus próprios guarda-costas!

Se pode listar uma extensa relação de autoridades assassinadas, feridas ou sequestradas, mas, na verdade, é impossível apresentar estatísticas de ações desencorajadas pela existência de bons «esquemas de segurança». A própria atividade de segurança pessoal de autoridades, por excelência, só vem a merecer comentários quando se vê sobrepujada pela ação dos criminosos, loucos ou terroristas. Embora tais procedimentos costumem ser bastante negligenciados na América Latina – cuja adjetivação de pacífica e tranqüila vem sendo à cada dia mais desmentida pelas estatísticas – torna-se de grande importância que Prefeitos, Secretários, Parlamentares, Promotores de Justiça, Procuradores, Magistrados, Governadores e Ministros possam, a exemplo dos Presidentes da República, contar com um grupamento estruturado de agentes para proporcionar-lhes a necessária proteção em face de todo um conjunto de riscos cujo levantamento prévio é procedimento pré-operacional de caráter obrigatório em toda boa segurança de dignitários.

Os seguranças de verdade são profissionais pagos para acreditar que a qualquer momento poderão ser exigidos a ganhar o seu dinheiro da forma mais dura e arriscada possível. São sabedores de que em todo planejamento de segurança existe uma possibilidade de falha impossível de ser eliminada, e tal constatação apenas justifica todo um redobrar de cuidados, o qual nem sempre é compreendido, tanto pelos protegidos e pelo público em geral. O Líder Palestino Yasser Arafat, durante seus dias de clandestinidade como inimigo de Israel, dormia cada noite em uma das 20 casas diferentes da OLP em Túnis. Só esmero de procedimento da sua segurança, auxiliado, ao que se disse à época, pelo uso de dublês, salvou-o de morrer num ousado e bem planejado ataque aéreo israelense.

Em se tratando de segurança pessoal não existem «receitas de bolo» e todos os planejamentos devem ser particularizados, especialmente dimensionados para fazer frente aos perigos a que um referido dignitário possa estar sujeito. Assim sendo, uma determinada autoridade pode estar convenientemente protegida em sua casa térrea e sem muros, escoltada por dois agentes desarmados (ou «apenas» portando pistolas ou revólveres), enquanto que, num outro extremo, a autoridade, potencial «alvo», pode ser considerado extremamente vulnerável, ainda que cercado por uma verdadeira parede humana, armada com fuzis e metralhadoras portáteis.

Numa abordagem de senso comum, quando se pensa em «Segurança de Autoridades» normalmente vem à mente dispendiosos «esquemas» de escoltas com agentes corpulentos, policiamento ostensivo, numerosos veículos, batedores, helicópteros, mas nem sempre estes são os fatores chave numa segurança de pessoas importantes… Por maior que seja o desejo de manter o protegido à salvo, não se pode simplesmente «esconder» o político ou a autoridade, ainda que sob a alegação de garantí-lo. Por outro lado, a ostentação dos numerosos recursos de proteção, por sí só, não garante a incolumidade de quem quer que seja, da mesma forma que a simples «seleção» de militares, policiais, ex-militares, lutadores ou de quaisquer outros «elementos de confiança», ainda que «fortemente armados», não se constitui num dissuasor eficaz em se tratando de adversários inteligentes, capazes de planejar, treinados e determinados. A proteção permanente de personalidades sob ameaça é uma missão delicada, que vem a exigir qualificação dos efetivos empregados, meios e equipamentos adequados para fazer frente a cada risco específico, de forma que se possa garantir a integridade dos segurados com um mínimo de contrariedades ou alterações no cumprimento de suas agendas de trabalho.

A execução de uma boa segurança, seja ela em que ambiente o for, deve ser precedida de um elaborado planejamento, no curso do qual se avaliará todas as informações disponíveis sobre riscos (possibilidades de perigos, atentados, acidentes e contrariedades em geral), inimigos e adversários da autoridade, identificação (se possível com fotografias) de grupos ou de pessoas, avaliação de recursos à disposição dos adversários que possam ser empregados em ações de atentado, histórico de ações anteriores perpetradas pelos referidos grupos ou indivíduos, seus «modus operandi», denúncias anônimas, informações da procedência mais diversa, informações sigilosas etc. É objetivo da segurança antecipar-se às ações de atentado, determinando os prováveis inimigos, seus meios de ação, apontando as deficiências de procedimentos, vulnerabilidades dos locais onde a autoridade habita e por onde normalmente circula ou trabalha, de forma a poder estabelecer os cursos de ação adequados à equipe de segurança. Todos aqueles que tem alguma responsabilidade no âmbito da segurança tem que estar cientes daquilo que deles se espera: do simples porteiro ou vigilante, do motorista dos carros do comboio aos agentes de segurança do círculo aproximado.

Todo encarregado de segurança pessoal deverá lembrar-se da velha máxima: «Onde quer que você tenha de atuar, que a sua mente já tenha estado lá antes!…». Todos os cenários de atuação previsíveis devem ser objeto de estudo e os membros da segurança deverão estar conscientes de seus papéis em face das contingências previstas. Como chegar e sair com a autoridade na sua residência? Como proceder para garantí-la e aos seus enquanto na residência? Como chegar e sair com o mesmo de seu local de trabalho? Como protegê-lo enquanto no local de trabalho? Quais cuidados devem ser adotados nos deslocamentos? Quais as melhores rotas de acesso e fuga? Quais os hospitais, postos policiais ou aquartelamentos militares que possam proporcionar auxílio numa emergência? Poder-se-á contar com cobertura aérea? Como proceder no clube, restaurante ou casa de praia ou ainda num evento público de grandes proporções?…

A segurança será disposta em círculos, os quais tem como centro a figura da autoridade protegida. Todas as ações de uma equipe de segurança são prévias e as vezes até exaustivamente ensaiadas, de forma que cada integrante da equipe de segurança conheça o seu papel no dispositivo de proteção e o cumpra de maneira rápida e eficaz. Não devemos esquecer que, onde quer que o segurado possa ser esperado, lá o perigo poderá estar à espreita; e os agentes de segurança tem por obrigação – extremamente difícil por sinal – não se deixarem apanhar de surpresa. Se planeja para evitar a materialização do perigo, e se treina para conseguir uma reação sempre mais rápida, no caso de advirem situações críticas reais.

Ao contrário de um cidadão comum, o bom profissional de segurança não pode confundir a boa sorte com as boas táticas. Em se tratando da proteção de dignitários, o fato de nenhuma adversidade ter ocorrido deverá estar associado ao bom planejamento da segurança, à sua execução disciplinada e escrupulosa, ao emprego de armamento, equipamentos e recursos adequados, à excelência do treinamento dos agentes e não apenas ao fato de que atentados não são coisas que acontecem todo o dia!

Embora todo profissional de verdade devesse saber de antemão todas as implicações do seu trabalho, nunca é demais lembrar que agentes de segurança devem estar literalmente "preparados para tudo". Fidel Castro teria escapado à ingestão de sorvete envenenado e hoje até seus charutos, talheres e guardanapos são inspecionados cotidianamente pela segurança… Nos idos dos anos 60, a Extrema-Direita francesa, após sucessivas e espetaculares tentativas frustradas, pretendeu eliminar o Presidente De Gaulle envenenando as hóstias da igreja onde o chefe de estado costumava comungar… Não faz muito tempo, na ex-União Soviética, um alto-executivo foi vitimado por uma elevada dose de exposição à radiação, resultante da colocão de uma pequena quantidade de material contaminado no punho do telefone de seu escritório. Em Junho de 2000, cartas contendo uma substância radioativa (tório em pó) foi enviada para o Primeiro-Ministro japonês, Yoshiro Mori e a diversas outras personalidades públicas locais. Para nós, brasileiros, tais ações podem beirar à ficção "Jamesbondiana" mas não esqueçamos que, embora a proteção de dignitários procure melhorar com o passar dos anos, o problema é que normalmente aprendemos com nossos próprios erros: existe uma forte tendência natural (inclusive de parte das próprias autoridades protegidas) de se menosprezar aquilo que não se vê, que "só muito raramente acontece" ou que "só ocorre em outros países", e são justamente estas falhas as maiores responsáveis pelos êxitos dos criminosos quando do cometimento de atentados. O lado preocupante da "Globalização" para a segurança de uma forma geral é que, aquilo que hoje acontece com alguém no exterior, poderá ser repetido amanhã, contra quem quer que estejamos protegendo no continente. Isso sem falar da integração entre os grupos terroristas ou revolucionários, bastante bem representado pela prisão recente, na Colômbia, de militantes procurados do Exército Republicano Irlandês. Na segurança, prioritariamente, procuramos aprender com os erros dos outros! A conscientização de que se trava uma batalha constante contra um inimigo que vai tentar surpreender sempre deve ser uma tônica; não só para os encarregados da segurança, como também para aqueles a quem se destinam os dispendiosos esquemas de proteção.

Estarão realmente bem protegidas as nossas autoridades?

Hoje, telefones são clandestinamente grampeados, conversas são gravadas sem a concordância dos interlocutores, gabinetes são arrombados e documentos importantes subtraídos ou copiados, sem que, em boa parte das vezes, os encarregados da segurança sequer houvessem aventado a hipótese de tal fato acontecer… A experiência pessoal do autor demonstra que ainda não são poucos os "profissionais" que erradamente imaginam que o seu trabalho de segurança envolve apenas a escolta e em casos extremos, a "farta distribuição" de sopapos e de tiros.

Nos dias de hoje, assaltos se processam impunemente no interior de prédios públicos, invasões, depredações, alarmes de bomba, explosões… e quem nos garante que incidentes razoavelmente recentes e de repercussão internacional como o do atirador no shopping-center paulista ou ainda de uma tomada de reféns como a do «Ônibus 174» no Rio de Janeiro, não poderiam reproduzir-se no interior de um edifício público, de forma a vitimar alguma autoridade política?

É inegável que o crime político vem crescendo em toda a América Latina. Nos últimos anos, o histórico de vereadores, prefeitos, deputados e até magistrados assassinados parece falar por si. Na Colômbia deparamo-nos com o sistemático seqüestro de políticos dos mais diversos níveis. O fato de que uma boa parte dessas ocorrências possam estar ligadas às disputas de poder (entre facções políticas) ou mesmo ao tráfico de drogas, indica a necessidade de reforçar a segurança dos dignitários.

O «Crime Organizado» dispõe do dinheiro suficiente para assassinar quem quer que a eles se oponha. Exemplares de artefatos explosivos, granadas, fuzis com miras telescópicas ou de raios infravermelhos e até lançadores de foguetes anti-tanque hoje estão disponíveis para bandidos comuns e bem podem ser usados para propósitos terroristas. O know-how disponível para o planejamento dessas ações (principalmente no que se refira à eliminação física) não deve ser menosprezado, ainda mais quando é sabido que a criminalidade pode contar com a consultoria especializada de maus policiais e maus militares, os quais, conhecendo intimamente as técnicas e táticas dos grupamentos de segurança, podem constituir-se em oponentes formidáveis.

Os Atentados

Muito antes de Maquiavel escrever seus tratados sobre a arte do exercício de poder já se sabia que, para alcançar seus objetivos, alguns homens não hesitariam em lançar mãos de métodos violentos e até desumanos. Em se tratando de proteger autoridade nos dias de hoje, com toda a tecnologia posta à disposição dos criminosos e terroristas, deparâmo-nos com uma tarefa extremamente difícil, profissional, que requer estudo e treino para que possa ser levada a efeito com um mínimo de possibilidade de dar certo.

Tudo pode ser motivo para um atentado: a necessidade de modificar a situação político-social através do uso do terrorismo e violência; o fato de que a eliminação física de uma autoridade pode propiciar mudanças no regime político e instauração de uma nova ordem; a motivação de que a vítima é responsável por eventual crise econômica ou pelas dificuldades financeiras enfrentadas pelos agressores; a busca vantagem financeira; o desequilíbrio mental dos seus autores ou ainda motivações de antagonismo, o ódio, a vingança, o ciúme etc.

Um "Planejamento de Segurança de Dignitários" é especialmente pensado e existe para fazer frente a um conjunto de ameaças previsíveis pela segurança. É dimensionado em função direta das pessoas e grupos antagônicos, bem como dos recursos (talentos técnicos, militantes e simpatizantes, meios bélicos, disponibilidade financeira etc) dos quais tais eventuais agressores podem lançar mão no intento de desmoralizar, sequestrar, ferir ou matar aquela autoridade que é objeto da proteção. No geral, uma segurança pessoal será condicionada pela necessidade de sobrepujar seus opositores potencialmente mais poderosos; e se qualificando obstinadamente para fazer frente ao mais perigoso, a tendência (embora não a regra) é que consiga prevenir, dissuadir e atuar com sucesso, em face de ocorrências adversas de menor gravidade, risco e sofisticação.

"SE CONHECEMOS O INIMIGO E A NÓS MESMOS, NÃO PRECISAREMOS TEMER O RESULTADO DE UMA CENTENA DE COMBATES" Sun Tzu

Quem pode pretender atentar contra a autoridade?

Antigos desafetos agindo pessoalmente

Um ex-correligionário ou ex-amigo pode tentar aproximar-se do segurado a fim de agredí-lo verbal ou fisicamente, valendo das mãos nuas, de armas brancas, armas de fogo ou qualquer recurso que a sua qualificação pessoal ou profissional permita empenhar contra nosso protegido. Em tal situação, que uma equipe de segurança bem estruturada poderá enfrentar com sucesso, a segurança deverá ter conhecimento prévio da existência do referido desafeto, identificar-lhe as feições, e salvo em casos especialíssimos (como se por exemplo o antagonista for um exímio atirador ou um especialista em explosivos), apenas lhe caberá impedir que o referido cidadão possa te acesso ao dignitário. Em Dezembro de 1993, o então Presidente da Alemanha Ocidental Richard Von Weizsaecker, ao caminhar para a entrada de um teatro em Hamburgo, foi atingido por um violento soco desferido por um senhor de cerca de 50 anos. O homem, de aparência insuspeita, saiu repentinamente do meio de uma pequena multidão que aguardava a chegada do presidente. Trata-se de um enorme "cochilo" da segurança, pois o referido elemento, mesmo antes da agressão, já estava na área do evento distribuindo panfletos que acusavam o dignitário de ser simpatizante nazista!

Criminosos comuns

Embora se possa estranhar a inclusão desse grupo adverso, vale lembrar que diversas autoridades, notadamente em horários de folga ou em seus deslocamentos, já foram alvo de roubos ou furtos e que tais ocorrências – que bem poderiam ser dissuadidas pela efetiva presença ostensiva dos agentes de segurança – acabam por desmoralizar, tanto a autoridade, quanto aqueles que se dedicavam a protegê-la. Também são notórias algumas ocorrências no Brasil, nas quais, motoristas e agentes de segurança relaxados em face dos riscos cotidianos, esperando por seus protegidos no interior de seus veículos, foram surpreendidos por criminosos comuns que sequer sabiam quem estavam abordando, chegando mesmo a perder suas armas de forma extremamente humilhante.

Matadores profissionais, "pistoleiros" ou "assassinos de aluguel"

Profissionais do extermínio, normalmente agem de forma seletiva, focando apenas seus alvos especificamente. Estudam pormenorizadamente seus alvos, anotam seus hábitos e rotinas, a segurança que os cerca, planejam suas ações de forma poderem efetuar o atentado com êxito sem se exporem à possibilidade de captura. Variando em direta relação com a importância de seus alvos (e também da segurança que os protege) podem empregar meios tecnologicamente caros e sofisticados como armas longas com lunetas, miras infra-vermelhas, lançadores de foguetes, venenos, substâncias radioativas, artefatos explosivos disfarçados etc.

 

Crime Organizado

Tratam-se de organizações criminosas e como tal dispõe de recursos financeiros de grande monta, permitindo custear atentados que podem ser elaborados e dispendiosos. Os "modus-operandi" variam desde as ações perpetradas por numerosos grupos armados (no estilo "Bonde", como são chamados os combois do tráfico carioca), às ações com atiradores de longo alcance da Máfia e as bombas dos cartéis colombianos. Vale lembrar a ação contra o Juiz Giovanne Falcone na Sicília, Itália em 1992, quando a Máfia identificou diversas rotas empregadas nos deslocamentos do magistrado, minou (com cerca de uma tonelada de explosivos) uma extensão de 50m de estrada, e detonou a carga com extrema precisão cronométrica, no momento que o comboio da autoridade passava pelo local a 100Km/h. Ressalte-se que, por extremo zêlo da segurança, os deslocamentos do Juiz eram cercados de grande sigilo e somente um número muito restrito de pessoas sabia exatamente quando e por quais meios a autoriadade iria viajar. A explosão foi tão violenta que vitimou o juiz, sua esposa e os seguranças os quais empregavam normalmente veículos blindados. No Brasil, em Novembro de 1996 e Agosto de 1997 foi noticiado pela imprensa a descoberta de cartas e outros indícios de que a criminalidade organizada (no caso, sequestradores e traficantes de tóxicos do Rio de Janeiro) planejaria atentar contra deputados, juízes e procuradores de justiça. Em 2002, as escutas telefônicas da polícia num presídio de segurança máxima apontavam que o narcotraficante brasileiro Fernando Beira-Mar estaria negociando a compra de um míssil anti-aéreo Stinger!…

Loucos ou psicopatas

Embora as ações desses grupos variem desde a simples agressão física de mãos nuas às facadas e tiros à queima roupa, o principal risco repousa na absoluta imprevisibilidade de suas ações. Não se pode estimar quem poderá atentar, onde agirá, quando e por quais meios, gerando uma indefinição extremamente perigosa para a segurança. Embora alguns desequilibrados mentais possam ser facilmente identificáveis (e por conseguinte previsíveis, como o inofensivo "Beijoqueiro", que se notabilizou por oscular personalidades como o cantor Frank Sinatra, o Papa João Paulo II e inúmeras outras celebridades) outros, dos quais ninguém desconfiaria, "a priori", já provaram ser capazes de disparar contra presidentes ou celebridades. Recentemente um jovem de 25 anos, politicamente radical e visivelmente desequilibrado, sem muito planejamento disparou com seu rifle calibre .22" contra o Presidente da França, Jacques Chirac, desfilando em carro aberto no feriado nacional do 14 de Julho; não acertou e foi dominado por populares antes mesmo da chegada do policiamento ostensivo disposto no local. Extremamente famoso, o caso do professoar americano Theodore Kaczynski, mais conhecido como "Unabomber". Um desequilibrado mental que vivia isolado numa casa nas montanhas, que enviou bombas para dezenas de vítimas, até ser capturado pelo F.B.I. em 1996. No Brasil ficaram famosos casos como o do motorista João Antônio Gomes, o qual, bêbado, em Maio de 1989, furtou um ônibus na Rodoviária de Brasília e adentrou com mesmo no Palácio e em Agosto do mesmo ano, um vendedor desempregado que quase atingiu o Presidente Sarney com tinta. Na ocasião, se dizia que a substância vermelha seria sangue do próprio autor do atentado, contaminhado com o vírus HIV. Em Junho de 1993, em Brasília, a decisão do presidente Itamar Franco de manter os seus seguranças afastados, provocou um grande constrangimento, quando, ao assistir uma missa na Catedal de Brasília um homem aparentando distúrbios mentais, beijou a mão do presidente atônito. Em Março de 2000, um homem armado com uma faca e uma suposta bomba, que se fazia passar por membro da segurança, foi preso em Sydney, quando de uma visita da Rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha. A soberana britânica já teve outras experiências desagradáveis com desequilibrados mentais: em 1982, Michael Fagan, um jovem desempregado burlou toda a segurança e adentrou à noite nos aposentos reais. Sentado na cama da rainha, conversou respeitosamente com ela por mais de dez minutos, até que a ela conseguisse chamar seus guardas.

Partidos,agremiações ou grupos políticos de oposição

Na América Latina vem sendo extremamente comum o recurso do assassinato político de juízes, prefeitos, veradores, deputados e até senadores. Para prevenir tais ações é extremamente importante avaliar as implicações da vida política do segurado, buscando a identificação e conhecimento da personalidade de seus adversários, bem como de seu histórico de conduta e amizades. Por mais que tal prática venha a encontrar opositores no âmbito da nossa romântica sociedade civil, se deve investigar a ação de pessoas ou grupos de tendência política contrária, que possam intentar contra a autoridade protegida. As informações oriundas dos levantamentos de inteligência são o alicerce do planejamento de uma segurança de dignitários. É extremamente difícil proteger contra complôs, os quais normalmente contam com a colaboração de pessoas próximas ao protegido. No caso do Presidente egípcio Anwar Sadat, assassinado por tropas durante um desfile militar em 1981, sabia-se da insatisfação político-religiosa no seio das forças armadas e medidas foram tomadas para detenção de suspeitos de conspiração. A segurança, desconfiada, teria buscado assegurar-se que as tropas desfilassem com armas descarregadas, porém foi burlada pelos militares revoltosos. Eles simularam uma pane num dos veículos militares que desfilavam, de forma a posicionarem-se próximos ao palanque presidencial e quando a atenção todos se voltava para o sobrevôo das aeronaves, abriram fogo, contra o palanque e as autoridades presentes. A Primeira-Ministra da Índia, Indira Gandhi foi assassinada em 1984 por membros de sua própria guarda pessoal, pertencentes à etnia Sikh. Um dos assassinos, o inspetor Beni Singh, integrava em sua segurança pessoal há dez anos e era seu guarda-costas de maior confiança. O crime fora motivado como represália à invasão, por ordem da Primeira-Ministra, do Templo Dourado dos sikhs em Amristar, quando morreram oitocentos sikhs, seu líder máximo, Singh Bhindranwale e cem soldados. Em 1994, o Presidente argelino Mohamed Boudiaf foi assassinado à tiros num atentado que deixou outros 41 feridos. Herói da independência da Argélia, discursava numa sala de um centro cultural que estava sendo inaugurado quando uma pequena bomba explodiu junto à sua tribuna.Tratava-se de um diversionismo, e naquele mesmo instante, um elemento com uniforme das forças de segurança posicionado à sua retaguarda, disparou repetidas vezes, à queima roupa, contra o presidente, matando-o no local.

Organizações Terroristas

No âmbito dos grupos realizadores de atentados, as organizações terroristas são adversários prioritários das equipes encarregadas da proteção de altas autoridades. Normalmente tais organizações são objeto da vigilância constante dos órgãos de inteligência nacionais, os quais procuram munir os setores de segurança dos respectivos dignitários, de todos os indícios e informações disponíveis sobre possíveis ações adversas. Dispondo de recursos técnicos e de integrantes treinados e extremamente motivados as organizações terroristas são uma ameaça que vem requerer da segurança planejamentos elaborados e esquemas dispendiosíssimos para proporcionar mínimas garantias aos segurados. Ressalte-se que, em boa parte dos casos, terroristas não demonstram a mínima hesitação em sacrificar a própria vida em prol da "causa", se constituindo assim em adversários bastante temíveis. O "modus operandi" de suas ações compreende o emprego de pistoleiros disparando à queima-roupa (comum no ETA), atiradores com armas longas, emprego de lançadores de foguetes anti-tanque (como no ataque do Bader Meinhof ao Comandante das Forças Americanas na Alemanha), morteiros improvisados (como os que o IRA não conseguiu usar contra a residência da Rainha em 1994 e que aparentemente foram empregados contra a posse do presidente Uribe da Colômbia em Agosto de 2002), bombas, minas, carros e caminhões-bomba, mísseis anti-aéreos disparados do ombro (que quase derrubaram o avião que transportava o presidente do Afeganistão em Maio de 1992) e elementos suicidas conduzindo explosivos em seu próprio corpo (como o empregado pela guerrilha do Tigres da Libertação Tamil no assassinato do presidente do Siri-Lanka em 1993). O ataque com gás venenoso, perpetrado por uma seita religiosa extremista no Japão em 1995, bem como o envio de antraz pelo correio para diversos congressistas e personalidades americanas, em 2001, serve de alerta para equipes de segurança, que – em consonância com o grau de risco de seus protegidos – devem também precaver-se contra ocorrências de atentados químicos e biológicos.

Organizações não-Governamentais

Tratam-se de entidades legalmente estabelecidas, que contam com uma grande disponibilidade de recursos financeiros, bem como uma grande militância transnacional. O fato de que, normalmente, não se envolveriam em ocorrências ilegais ou violentas, não as exime de intentar ações de desmoralização contra dignitários que contrariem seus princípios. Ressalte-se que grupos de proposta inicialmente pacífica como a "Animal Liberation Front", do Reino Unido, também podem descambar para o radicalismo e inicar campanhas ativas de terrorismo, como, no caso em questão, através do envio de bombas postais.

Serviços Secretos ou agências de inteligência agindo a mando de um governo ou não (CIA, MI-6, KGB, SNI, etc.):

Certamente todo mundo já deve ter ouvido histórias sobre complôs de órgãos de inteligência para desmoralizar, destituir ou eliminar este ou aquele dignitário. Não faltam histórias nesse sentido e muitas delas tem realmente um fundo de verdade, embora as ações de órgãos de inteligência costumem ser cercadas de uma aura de sigilo. O falecido rei Hussein da Jordânia quando, em suas memórias, citou nada menos que treze atentados contra sua vida, a maioria deles tramada pelo serviço secreto egípicio do então presidente Nasser. Primeiro foi uma emboscada onde se disparou contra o carro real idêntico ao de Hussein, mas o rei não estava nele e o ministro que o ocupava escapou com escoriações. A seguir, alguém dentre os empregados da casa real pôs nas gotas nasais que o rei usava contra sinusite. A trama foi descoberta e o frasco foi esvaziado. "As gotas saíram sibilando como se fossem vivas", recorda o rei. Tempos depois a presença de diversos gatos mortos nos terrenos do palácio revelaram que um cozinheiro estava experimentando venenos destinados à comida do rei. Em outra ocasião, só a perícia de Hussein como piloto salvou-o quando, em novembro de 1958, dois MIG-17 soviéticos com as marcas da República Árabe Unida (efêmera união política da Síria com o Egito) atacaram seu avião sobre a Síria quando ele se dirigia para a Europa. Hussein desceu até o nível do solo e, enquanto os dois caças o acometiam em mergulho repetidas vezes, tentando colocá-lo nas respectivas linhas de mira, ele voou rente ao chão efetuando repetidamente manobras evasivas até encontrar refúgio em sua fronteira. Em Burma, em 1983, o presidente da Coréia do Sul apenas escapou da devido a um atraso em sua escolta motorizada. Comandos da Coréia do Norte explodiram um mausoléu onde se encontravam as autoridades de Burma e da Coréia do Sul, deixando um total de 21 (vinte e um) dignitários mortos e 48 (quarenta e oito) feridos. Como exemplo da sofisticação dos meios à disposição dessas agências governamentais, vale recordar a morte do líder separatista da ex-república soviética da Chechênia, Djokar Dudayev, em 1996. O líder revolucionário foi alcançado por um míssil anti-radiação, especialmente modificado para guiar-se pelas emissões do seu telefone celular conectado à satélite.

A tarefa dos seguranças pessoais não se constitui em algo fácil: estar permanentemente a postos para um combate que não tem dia e nem hora para acontecer vem a exigir profissionais técnicos, atentos e disciplinados, que jamais subestimem a capacidade de seus adversários. Os agressores sempre tem a vantagem da escolha do local do atentado e o perfeito reconhecimento desse local; tem todo tempo para o planejamento da ação, cabendo a eles a iniciativa de onde e quando atacar o dignitário. Hoje dá para se aquilatar o grande desafio dos chefes e agentes de seguranças argentinos, encarregados de proteger autoridades cada vez mais desacreditadas e odiadas pela população…

O treinamento dos agentes de segurança deve merecer muita atenção e ainda que sabidamente dispendioso, deverá ser constante na medida que se espera dos homens uma atuação de fato! Planos e procedimentos para fazer frente à cada situação de perigo devem ser estabelecidos, instruídos aos seguranças e seguidos à risca, sobretudo no que tange à segurança física de instalações como os tribunais, as casas legislativas, gabinetes e residências dos protegidos. Os esquemas de segurança devem ser cercados de sigilo. Os verdadeiros profissionais da segurança não devem demostrar propensão por dar entrevistas ou ver sua foto exibida nos jornais e revistas. Da mesma forma, a autoridade deve escusar-se de falar sobre o seu próprio esquema de proteção. O trabalho de criminosos ou terroristas, quando do planejamento de um atentado, não deve ser facilitado pela exposição, na mídia, de detalhes sobre a segurança que cerca a personalidade pública.

 

A verdadeira segurança não se improvisa! Prevenção é a chave do trabalho a ser desenvolvido e a segurança deve antecipar-se aos problemas. A segurança de dignitários existe para evitar problemas, contrariedades e atentados; e só travará combate se tal contingência for inevitável. Na medida do possível tudo deve ser previsto… Num trabalho de segurança verdadeiramente profissional, a improvisação é exceção, nunca a regra. As autoridades devem se conscientizar da necessidade de cooperarem com os responsáveis pela sua proteção, confiar e valorizar seu trabalho, modificando seus hábitos e rotinas em função do aconselhamento de sua segurança.

Atentados se sucedem à cada dia e vale perguntar se todos os encarregados de segurança de dignitários já refletiram acerca dos riscos que envolvem seu trabalho? Será que as instalações que eles também guarnecem tem bons "Planejamentos de Segurança" que lhes norteie a atuação?…. Em muitas seguranças de dignitários, às vezes percebe-se que sobra boa vontade, mas – por mais que isso venha a contrariar alguns "Egos" – ainda falta (e muito) profissionalismo. Quando presenciamos exemplos de nossos seguranças carregando embrulhos, comendo, bebendo ou se divertindo com seus protegidos, deixando seus postos para comprar cigarros ou "dando uma fugidinha no banco" a fim de pagar a conta do "Chefe", esmerando-se em proteger os dignitários em "arriscados coquetéis", faculta imaginar se não estariam mais engajados na manutenção de seus cargos e gratificações do que sinceramente empenhados em de fato garantir os dignitários a quem, na realidade, fingem proteger.

Lembremo-nos, de uma vez por todas, que segurança de dignitários é coisa séria e não se constitui em tarefa para profissionais improvisados! Quem quer que planeje a execução de um atentado pode até tentar numa segunda chance… Nós, que protegemos, ao menos teoricamente, não podemos errar uma única vez!

© by Vinícius D. Cavalcante, 2002.

VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, o autor, é consultor em segurança especializado em segurança de personalidades e inteligência. Integrou a Diretoria de Segurança da Câmara Municipal do Rio de Janeiro; graduando em Gestão da Segurança pela Universidade Estácio de Sá (RJ), ocupa hoje a Gerência de Segurança Corporativa da Segunda maior rede de restaurantes fast-food do Brasil , o BOB’s.

 


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