Terrorismo:1. modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas, ou de impor-lhes avontade pelo uso sistemático do terror. 2. Forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante oemprego da violência. (Novo DicionárioAurélio)
Terrorismo:ação inesperada que busca provocar estados psicológicos de desconcerto, pânicoe insegurança com o objetivo de atingir propósitos que vão além da destruiçãoocasionada pelo ato terrorista. O êxitodo terrorismo fundamenta-se no efeito psicológico orientado para pressionar edestruir o moral, ultrapassando as perdas materiais ocasionadas pelo evento emsi. (Marco Muñoz, psicólogo)
Osataques terroristas perpetrados, em setembro passado, contra as torres gêmeasdo WTC em Nova Iorque e ao, até então intransponível, edifício do Pentágono emWashington trouxeram à luz a fragilidade dos sistemas de segurança diante deatentados dessa natureza e deixaram o mundo perplexo e com uma sensação deimpotência jamais imaginada.
Danosmateriais de grande monta, equivalentes a perdas somente contabilizadas emcatástrofes provocados pela Natureza, crises nas Bolsas de Valores em todo omundo, oscilação nas moedas, redução de atividades na maioria dos negócios etantos outros fatos colocaram as potências mundiais em estado de alerta máximoe espalharam, como numa enorme onda, reflexos indesejáveis em todos os países.
Asituação se agravou ainda mais após as investigações que resultaram nasretaliações norte-americanas ao Afeganistão. Em contrapartida, ameaças deataques com armas biológicas, novos atentados com o uso de aviões e bombas, apossibilidade do terrorismo se espalhar para outros países, etc., colocaram-nosnuma expectativa angustiante.
Paramuitos, contudo, maior do que os prejuízos materiais, os efeitos traumáticosdos atentados alastraram-se pelo mundo, trazendo a todos os povos uma sensaçãode medo e insegurança como há muito tempo não se via. A incerteza sobre osacontecimentos futuros afetaram profundamente os planos das pessoas e, como nãopoderia deixar de ser, também das empresas.
Asegurança das empresas, no que tange aos aspectos mais comuns, tais como apreservação do patrimônio, o controle de acesso, os roubos internos, asegurança pessoal e tantos outros passou, frente a aquele estado de coisas, adividir espaço com uma preocupação maior: a prevenção de perdas decorrentes depossíveis atos terroristas e mais, como minimizar os efeitos psicológicos delesdecorrentes entre os empregados.
Estes,além da segurança pessoal e da família, passaram a temer pela sobrevivência daempresa, pelo fantasma do desemprego, pelos projetos de vida, queprovavelmente foram revistos e, comoconseqüência, tiveram o rendimento afetado pelas pressões a que foramsubmetidos. Essa situação, sem sombra de dúvida, criou o ambiente ideal paraque o terrorismo, esse inimigo invisível, alcançasse seu principal objetivo:semear o medo e a falta de confiança e esperança.
Nemmesmo os profissionais de segurança mais tarimbados poderiam imaginar umatentado terrorista de tal porte, onde mais de 4.000 pessoas perderam a vida eos danos materiais extrapolaram facilmente dezenas de bilhões de dólares. Atéentão, sempre que se falava em terrorismo, pensava-se em atos de sabotagem,seqüestros e, de forma mais radical, nos “homens-bomba”, responsáveis por açõescondenáveis em pontos do Oriente Médio, a exemplo do atentado a uma lanchoneteem Israel e que vitimou algumas pessoas.
Diantedesse quadro lamentável, surgem as perguntas: como as empresas podem combateressa situação? E no Brasil, há perspectivas de acontecer algum ato terrorista?Estamos preparados para enfrentá-lo? Se nem os norte-americanos, com todo o seupotencial econômico e sofisticados recursos de segurança souberam evitar osatentados, o que seria de nós?!
Deuma coisa, entretanto, temos certeza. Não basta apenas cuidar das medidas queelevem o grau de proteção e reduzam os riscos. Os efeitos mais devastadores doterrorismo são psicológicos e, por isso, as empresas devem direcionar suasações no sentido de neutralizá-los, além de investir em planos de emergênciaque garantam sua sobrevivência em caso de alguma crise.
Provadisso foi a reação de grandes corporações norte-americanas. Poucas horas após oatentado ao WTC, presidentes e CEO’s correram para, através devideoconferências ou simples correio eletrônico, divulgar mensagens deorientação a empregados espalhados pelos quatro cantos do planeta,transmitindo-lhes confiança e solidariedade, além de colocar todos os recursosda organização na tentativa de salvar vidas e assistir às vítimas,prioritariamente.
Opresidente de uma grande empresa, com filiais em vários países, entre os quaiso Brasil, além de falar para todos os empregados, via voice-mail, minutosdepois do ocorrido, fez chegar a cada um deles, no dia seguinte, uma fita devídeo com a gravação de sua mensagem, demonstrando que na empresa as coisasestavam sob seu total controle e estimulando a todos a continuar trabalhandopara rapidamente superar um momento tão difícil.
Manifestaçõescomo estas não só prestaram para “levantar o moral da tropa”, mas também paradar maior segurança aos empregados. Certamente eles se sentiram mais“protegidos” e confiantes ao perceber a preocupação da empresa com as pessoas,deixando para um segundo momento aspectos relativos à perdas financeiras eoutras que pudessem vir a afetar seu negócio. Ficou evidente, por isso, aimportância que as grandes empresas dão ao fator psicológico, que influiinegavelmente na produtividade dos funcionários.
Baseadosnessa realidade, entendemos que duas estratégias são fundamentais para que asempresas possam se preparar para enfrentar crises:
·a cultura da prevenção e docomprometimento com a empresa, e
·a adoção de um Plano de Emergências
Opsicólogo Marco Muñoz, especialista em Recursos Humanos, ensina que, da mesmaforma que as empresas desenvolvem uma cultura baseada na qualidade e atenção aocliente, é importante que, em momentos de crise, disseminem a cultura daprevenção e do compro
metimento com a empresa, entre todos os seus funcionários.
Numacultura de prevenção, os empregados e todos aqueles que se relacionam com aempresa devem comportar-se de modo a valorizar os hábitos seguros e a censuraros perigosos. Tais atitudes atingem todos os departamentos da empresa e sereferem a prevenção de acidentes, proteção ambiental, cumprimento das normas desegurança estabelecidas, segurança ocupacional, proteção da informação e dascomunicações, etc.
Oscomponentes básicos relacionados com a administração de eventuais ameaças são:comunicação, capacitação e programas de prevenção.
Éde extrema importância que os empregados percebam que a preservação da vida eda empresa é prioritária e de responsabilidade de todos, assim como que ascomunicações devem ser firmes e tranqüilas, incentivando os comportamentosseguros e o respeito às regras e procedimentos de proteção.
Devemos empregados, ademais, ser sensibilizados quanto aos riscos e capacitadospara, de acordo com suas atividades, saber o que fazer em casos de evacuação deedifícios, ameaças de bombas, recebimento de cartas e pacotes suspeitos, tomadade reféns e outros incidentes críticos.
Quanto aos programas de prevenção, estes,por si só, demonstram uma atitude pró-ativa da empresa, não esperandopassivamente que fatos aconteçam e transmitem uma sensação de maior segurançaante o perigo. Diminuem, também, ofator surpresa e conscientizam os funcionários de que, para enfrentar ascrises, é imperativo um processo prévio de preparação. No caso dos atentados aoWTC, ficou evidente que houve uma longa preparação dos terroristas antes doataque, inclusive com infiltração de agentes, e que toda a movimentação passoudespercebida ou foi negligenciada pelos órgãos de segurança norte-americanos.“Um grupo que pratica um atentado contra uma empresa, geralmente possuiinformantes em seu interior. Por isso, é indispensável estabelecerprocedimentos que controlem o acesso não somente dos funcionários, como tambémde subcontratados à empresa. Isto implica num cuidadoso processo de verificaçãode antecedentes, assim como na utilização de testes psicológicos e outros meiosorientados à determinação de confiabilidade”, afirma Marco Muñoz.
Asegunda estratégia – Plano de Emergências – é essencial para que a empresaesteja minimamente preparada para fazer frente às situações críticas einesperadas e que possam por em perigo a vida de seus colaboradores, opatrimônio e sua imagem institucional.
Odesenvolvimento de um eficiente Plano de Emergências não pode prescindir jamaisdo apoio e participação da alta administração da empresa. Por se tratar de algoque envolve a rentabilidade e a imagem da empresa, além da destinação de fundose a autoridade para operacionalização, é óbvia essa importância.
Realmente, não é um trabalho fácilredigir e implantar um Plano de Emergências, posto que uma vez garantido oapoio gerencial, muitos outros passos devem ser dados. Há que se organizar umaequipe competente e dedicada para seu desenvolvimento, que inclui suapreparação e estrutura, análise de riscos e ameaças, definição das políticas eestratégias, elaboração dos procedimentos de emergência, designação de tarefase responsabilidades e programas de manutenção e prática.
Entretanto,é fato comprovado que empresas que não possuem um plano de emergência erecuperação de desastres, atualizado e testado periodicamente, estão maissujeitas a enfrentar grandes riscos, perdas financeiras e de imagem, caso sejamalvo de atos criminosos, tais como sabotagens, atos de terrorismo, crimescibernéticos, vazamento de informações confidenciais, etc.
Omodelo empresarial de hoje está focado na redução de custos, controle dequalidade e atendimento ao cliente. Cabe à segurança adaptar-se a esse modelo efazer com que as empresas se convençam de que emergências realmenteocorrem, nem sempre são previsíveis epodem se converter em grandes desastres e causar prejuízos irreversíveis, casonão sejam bem administradas. Ai está a importância de um bom Plano de Emergências.
Muitasempresas que tinham seus escritórios no WTC ou em edifícios próximos foramduramente atingidas, tiveram funcionários mortos e prejuízos enormes.Entretanto, pouco tempo depois, já estavam funcionando em outros locais,retomando seus negócios em “hot sites”, até o retorno às atividades normais.Com toda certeza, essas empresas possuíam um Plano de Emergências corretamenteelaborado e testado.
Outras,contudo, imprevidentes e sem qualquer procedimento estabelecido para situaçõesde crise, lamentavelmente pereceram na tragédia e jamais voltarão a operar.
Muitotempo passará e, dificilmente, vamos nos esquecer das milhares de vidasperdidas nos atentados e dos efeitos psicológicos do terror. Que os horroresdaquela fatídica manhã, pelo menos sirvam para nos conscientizar dos riscos aque estamos expostos e nos motive a adotar medidas que os minimizem.