Nos Estados Unidos, há dois anos o NCPC – National Crime Prevention Council,organização educacional privada cuja missão principal é incentivar a populaçãoa prevenir crimes e auxiliar na integração e segurança das comunidades e a ADTSecurity Services, Inc., a maior empresa provedora de serviços de segurançaeletrônica, com mais de 2 milhões de clientes nos Estados Unidos e Inglaterrarealizam uma pesquisa nacional denominada “Nós estamos seguros?”, que objetivamostrar a “sensação de segurança” da população norte-americana e saber o queeles estão fazendo para prevenir crimes através de suas atitudes pessoais ejunto a comunidade em que vivem.
A pesquisa abrange a segurança em quatro áreas de prevenção ao crimeconsideradas “chave”: pessoal e doméstica, da família, na vizinhança e nacomunidade. Em cada uma dessas áreas, que formam círculos concêntricos deproteção, a pesquisa dá ênfase às medidas de prevenção e às ações práticasadotadas naquele país, além de medir o sentimento de “medo do crime”, que porvezes apavora mais que o próprio crime.
E por que o ênfase na prevenção? Entendem os promotores da pesquisa que aprevenção ajuda a evitar que nos tornemos vítimas da violência e nos põe asalvo dos custos financeiros, físicos e psicológicos do crime. Acreditam,realmente, que a prevenção funciona! E que se uma comunidade investir naprevenção ao crime, ela ficará mais forte, mais segura e unida paraenfrentá-lo.
Os dados da pesquisa
O que a pesquisa mostrou? Que conclusões podem ser tiradas de seus resultados?
O universo pesquisado em fins de 1999 envolveu 700 pessoas espalhadas pelos 50Estados norte-americanos e apresentou resultados que levaram os organizadores aconcluir que existe uma forte preocupação e um alto nível de medo do crimeentre a população, fazendo com esses sentimentos afetem o cotidiano das pessoase seus hábitos de vida, de trabalho, de compras e de lazer.
Mais e mais os norte-americanos sentem mais medo de caminhar pelas redondezasde seus bairros(13% dos entrevistados, o que representa 26 milhões de pessoas),pais se preocupam mais com a segurança de filhos e sentem que estão falhando naadoção de medidas básicas de prevenção ao crime, a despeito dos índices decriminalidade estarem caindo há 7 anos nos Estados Unidos.
A violência pode estar diminuindo nas estatísticas oficiais, mas os americanosnão estão tendo a sensação de segurança que se deveria esperar. Se os vizinhose a comunidade não se sentem seguros, tendem a alterar seus hábitos de vida,tornando-se mais desconfiados e tensos. Essa espiral negativa realimenta-seatravés do comportamento da população, gerando mais medo e aumentando oestresse.
19% confessaram que reduziram suas atividades em função do medo de crimes; 60%estão mais preocupados com a segurança das crianças, especialmente nas escolase nos trajetos de ida e volta delas e 26% disseram que a violência com armas éum problema na comunidade em que vivem.
Muitos norte-americanos, ainda, mudaram seu comportamento em decorrência domedo do crime: 52% passaram a cuidar mais do fechamento de suas casas; 51%tornaram-se mais desconfiados com estranhos; 39% evitam certas áreas e ruas dobairro em que vivem; 19% saem menos às ruas e 10% instalaram, no último ano,sistemas domésticos de segurança.
Quando perguntados sobre que equipamentos de segurança instalariam em suascasas no próximo ano, as respostas deixam claro a preocupação com o assunto:95% disseram que instalarão melhor iluminação externa; 60% instalarão algumtipo de sistema de segurança em suas casas e 45% utilizarão “timers” para asluzes internas das residências.
Como fato positivo, toda essa sensação de insegurança faz alavancar os clubesou grupos de programas de prevenção já bastante antigos e disseminados nosEstados Unidos, tais como o “Neighborhood Watch”, o “Crimestoppers”, o “YCWA –Youth Crime Watch of America” e muitos outros, que congregam voluntários paraatividades de prevenção, formam fundos de auxilio às atividades policiais,orientam a ações anti-crime e recebem o apoio institucional e financeiro degrandes corporações.
43% dos norte americanos informam que possuem em suas comunidades oNeighborhood Watch e desse total, 59% (51 milhões de pessoas!) participamdesses grupos, que crescem dia-a-dia no país, e a eles dedicam várias horasmensais de seu tempo.
No Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo, os índices decriminalidade – acreditem!?! – também estão baixando. Dados coletados noBoletim Conjuntura Criminal e relativos ao quarto trimestre de 2000, mostramque a criminalidade foi a mais baixa desde o primeiro trimestre de 1998. “Houveuma redução de 1,5% com relação ao período anterior e de 3% quando comparado aomesmo período de 1999”. Em confronto com o quarto trimestre de 1999, oshomicídios dolosos decresceram 5%, as lesões corporais 0,7% e os roubos 5,5%.
Por paradoxal que possa parecer, depreende-se que nem sempre a sensação desegurança está, direta e/ou proporcionalmente, ligada à redução estatística dacriminalidade. Também aqui, e isso é incontestável, sentimo-nos cada vez mais inseguros,apesar da redução nos índices criminais.
Vivemos uma verdadeira paranóia coletiva, amplificada e retro-alimentada pelasnoticias e pelas interpretações dadas a elas pela mídia. Em muitos casos mesmo,uma completa inversão de valores, configurada por críticas e reprovações queatingem inclusive aqueles que cumprem seu dever. Parece que nossos órgãospoliciais sentem-se acuados diante de tantas ocorrências e tantas reclamações,que transmitem à população uma sensação ainda maior de insegurança e medo.
Uma das consequências dessa situação, que talvez passe despercebida a muitos denós em razão da agitação em que vivemos, é o estado de constante tensão damaioria da população, com evidentes prejuízos a nossa saúde, ao nosso lazer, àsnossas atividades profissionais e cotidianas, enfim, as nossas vidas.
As clínicas psicológicas e consultórios psiquiátricos não nos deixam mentir,pois estão lotados de pacientes fazendo terapias para tentar se livrar daSíndrome do Pânico e outras doenças motivadas pelo estresse.
E qual o caminho a seguir? Qual é a Política de Segurança em nosso Estado e nopaís? Como a população pode ajudar a enfrentar essa situação? Quanto perdemosem produtividade e qualidade de vida em função de tanta insegurança (ousensação dela!)? Até que ponto vamos chegar?
Com a palavra e as ações os políticos e os especialistas. Urgente!!!